terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Lontra

Desgraça pouca é bobagem.
Como assim, roubaram Jackson?!


Eu estive ontem atropelada novamente, meu corpo mal se movia porque eu estava catatônica. Veronika está comigo a todo o tempo, eu estou como que engessada, muito paralisada.
Entretanto, encontro nova energia para me segurar diante de mais uma situação de trauma. Sobrepôs-se a qualquer dor o sumiço de Jackson.

Os psicólogos queixaram-se a Veronika sobre minha fixação neste menino e seu cão. Eu fui repreendida veementemente por ela, quanto a me afastar deste "problema" do cão, o qual eu não estou em qualquer condição de resolver. Verdade, e justamente esta é minha aflição: não o poder encontrar e salvar.

Por que teríamos que perdê-lo? Quem, em sã consciência, pensaria ser melhor para este cão viver com quem quer seja, afora Jonas? Não poder conforontar esta prepotência é o que me atordoa.
Uma coisa é perder algo por um golpe do destino, outra bem diferente é perder algo importante por conta da atitude presunçosa de um adolescente humano sem qualquer responsabilidade para o ocupar, e sem pais suficientemente seguros para o impedir de fazer tal coisa.


Portanto, deixei que Veronika, os médicos, meus pais e todos os que se ocupam de me "recuperar" contivessem todas as preocupações cabíveis ao meu caso e vim aqui revelar que mechi meus pauzinhos para ajudar Jonas a encontrar seu companheiro: liguei para um segurança de meu pai e o fiz entrar em contato com Jonas e sua família, a fim de encontrarem Jackson.

Foi o que eu pude fazer para impedir que mais uma tragédia aconteça. Depois, eu me ocuparei de descortinar as sensações trazidas pela memória ainda turva, pelas visões horrendas de um braço que me envolvia o abdome, antes de eu sentir o caminhão chegar...

Oh, deixe-me tentar salvar uma família, compensar a mim mesma o mal que eu provoquei...
Não posso me negar a, antes de qualquer coisa, descobrir que EU provoquei um evento muito triste, que enche de amargura toda a raça.
EU estou tomada por um fluxo intenso de um azedume que me preenche toda, principalmente depois de me deparar com a iminência de outro acontecimento que poderá tornar pior a vida neste planeta: a morte de um cão cuja dominação parece alterar o sentido da "superioridade" humana sobre os animais.


Um cão que canta e, assim, junta-se a nós por laços inimagináveis pelo primeiro predador humano que pensou, "eu posso cercar e tratar esta cabra selvagem, controlar sua vida de modo a que ela me forneça alimento, a mim e aos meus, enquanto durar sua vida". Entre Jonas e Jackson não há controle, há interdependência, que é a base das relações na natureza.

Sinto-me oprimida por um mal da raça.
Sei que não terei para onde mais fugir e estou fraca.

O que quer que eu tenha feito não é pior do que o que este jovem faz de mal a Jonas e a Jackson. Ao tentar salvá-lo, estendo uma mão a tentar também salvar-me... de mim mesma.

Depois que eu souber que Jackson está bem e a salvo com jonas, estarei preparada para enfrentar meu drama, assim o espero. Até lá, quero mergulhar, como uma lontra, pela escuridão deste rio que flui e deixa à minha volta uma mancha verde escura e espessa, amarga e triste, a me mostrar que uma desgraça nunca chega sozinha.